Acredito que, apesar do capitalismo ter sido uma ameaça séria ao Ambiente, a solução de sustentabilidade reside no próprio capitalismo. Vou fazer uma pequena revisão histórica para explicar o meu raciocínio.
Antes daRevolução Industrial (meados do séc. XVIII), a população estava relativamente limitada porque não havia a capacidade de aumentar continuamente a produção de alimentos. Por consequência, existindo um bom ano agrícola, a população aumentava; existindo um mau ano agrícola, parte da população morria de fome.
Após a Revolução Industrial, a tecnologia permitiu aumentos contínuos de produção o que levou a um aumento contínuo da população. Nessa altura, as pessoas começaram a perceber que a sua sobrevivência já não dependia tanto de fatores externos, mas mais de si. Como tal, o aumento da riqueza das famílias permitiu que as pessoas deixassem de pensar em sobreviver e começaram a pensar em viver. A partir desta mudança, outro passo foi dado quando as pessoas começaram a pensar em viver em melhores condições. Com esta mudança, vieram novos conhecimentos, um aumento da consciência e um aumento da preocupação com o ambiente.
Resumidamente, passamos de uma preocupação em sobreviver, para uma preocupação em viver e, posteriormente, em viver melhor. E à medida que fomos mudando estas preocupações, a iniciativa privada foi-se adaptando. Primeiro, a preocupação era oferecer o máximo de bens ao menor preço possível. Agora, a preocupação é oferecer mais e melhores bens, mas com o menor impacto ambiental possível.
E é aqui que estamos atualmente. O problema desta história é que só se aplica ao mundo desenvolvido. Isto é, existem algumas regiões no planeta onde as pessoas ainda estão no modo de sobrevivência e outras regiões no planeta onde as pessoas estão apenas a viver.
O que nos leva à pergunta: então não é possível colocar todas as pessoas no planeta a tentar viver melhor? Atualmente ainda não é possível. Existe o problema da escassez: não existe tecnologia que nos garanta que a utilização de todos os recursos disponíveis permita que toda a gente tenha um padrão de vida que existe num país desenvolvido. Se nós já estamos a sobreutilizar os recursos do planeta, imaginem o que seria todas as pessoas em países como a Índia e a China a consumirem o que nós consumimos.
Qual é então a solução? Uma das soluções anticapitalistas mais famosas é usar a culpa e sugerir à população nos países desenvolvidos que reduzam o seu padrão de vida. Esta solução é inviável porque as pessoas querem viver melhor. Esta procura pelo melhor está imprimida no nosso ADN e é por isso que qualquer movimento que contrarie esta procura fracassará.
A solução mais natural é a contínua disseminação de informação sobre os problemas de sustentabilidade do planeta. Este aumento de conhecimento vai fazer com que mais pessoas percebam que a procura de uma vida melhor vai depender que pessoas noutras regiões também comecem a pensar viver uma vida melhor. E será esta força de valorização sobre a sustentabilidade do planeta que forçará as empresas a procurarem melhores soluções tecnológicas para criarem produtos ainda mais sustentáveis.
Resumindo, a solução mais sustentável é fazer com que as pessoas valorizem cada vez mais a sustentabilidade, para que consequentemente o capitalismo reconheça cada vez mais esse valor.
Filipe Grilo
Professor da FEP da Universidade do Porto
Head of Simulation and Forecasting na Watson & Noble